"Expor aos oprimidos a verdade sobre a situação é abrir-lhes o caminho da revolução." Leon Trotsky
terça-feira, 26 de junho de 2012
segunda-feira, 4 de junho de 2012
A Democracia Socialista e a construção racial do PT: A disputa da Secretaria Nacional de Combate ao Racismo, reorganização e novas lutas.
Por Herlom Miguel*
“Nossos
esforços visam construir uma nova correlação de forças, do tamanho da
nossa presença na composição da sociedade brasileira. O primeiro passo
para mudar essa correlação de forças é mudar o PT." Nei Pires
Uma história de lutas na construção do PT
O PT tem um histórico
de muito debate em torno da questão racial. Nós, da democracia
socialista, ajudamos desde as formulações iniciais. Esse legado não é só
nosso. No inicio muitas correntes contribuíram. Muitos militantes
negros, independentes ou organizados em coletivos, sempre reafirmaram a
necessidade do Partido dos Trabalhadores ser formulador e dirigente de
uma revolução que mudasse a vida do povo negro brasileiro.
Lá nos anos 80, nosso povo ajudou, cada um de sua forma, a construir essa história no PT, posso citar:
Nilo Rosa, Samuel Vida, Marcelo Dias (ex Deputado Estadual), Matilde
Ribeiro (ex Ministra da SEPPIR), Samuel vida, Sergio São Bernardo, Jorge
Carneiro e Jorge Almeida. Alguns destes não são mais militantes da
DS, mas continuam aguerridos e foram fundamentais para a opinião
política da democracia socialista e do partido dos trabalhadores. Mais
tarde ajudaram outros nomes, tais como: Edson Portilho (Ex Deputado
Estadual), Gilmar Santiago (Vereador em Salvador), Jorge Senna, Eudes
Xavier (Deputado Federal), Creuza Maria, Bira coroa(Deputado Estadual),
Bia Santiago, dentre outros valorosos. Está no DNA do PT
participação da DS desde seus primeiros textos e reuniões propondo uma
plataforma de construção democrática e negra que reafirma a necessidade
de políticas afirmativas para o Brasil. Todos esses militantes
construíram o nosso partido para fazer luta anti-racista.
Nos anos 90, a DS
possuía parlamentares, militantes e uma ação organizada na disputa do
setorial de combate ao racismo do PT. Construímos uma intervenção sempre
organizada pelos acúmulos históricos, principalmente do MNU – Movimento Negro Unificado.
Ainda nos anos 90,
houve um nítido enfraquecimento da centralidade da participação das
negras e negros da DS no MNU. Além disso, o PT entra em uma agenda
institucional pesada a partir do primeiro ano do governo Lula. Com isso,
a democracia socialista teve refluxo, limitações e enfraqueceu-se no
movimento negro.
Mais recentemente
vieram outras vitórias. Podemos citar: A experiência na participação da
Secretaria Municipal da Reparação em Salvador, a participação na SEPPIR e
no primeiro conselho organizado pela SEPPIR. Tudo isso, nos deixou
experiência, resultados e algumas respostas.
Reorganização das negras e negros recomeça a partir da juventude.
Com a efervescência
da auto-organização da juventude negra, somado à nossa qualificada
atuação no movimento estudantil, se instaurou um terreno fértil para
rearticulação das negras e negros da DS, agora, pelas mãos da juventude.
O retorna da agenda organizativa ocorre em 2007, com a
fundação/construção do coletivo nacional enegrecer. O coletivo
foi fundado por jovens da DS e independentes que militavam no movimento
estudantil de seus estados. Mais tarde, estávamos organizados na Bahia,
Rio de Janeiro, Pernambuco, Alagoas, Tocantins, Pará, Rio Grande do Sul e
no DF. Com esse processo, reiniciamos o debate inicial de unidade de
ação, programática, tática e de reconstrução da pauta racial da
Democracia Socialista. Hoje, são poucos os estados onde não há militante
do Enegrecer organizado. A partir desses contatos, foram reorganizadas
políticas e ações nacionais unitárias e combinadas. Essa unidade
refletiu nas vitórias que comemoramos hoje.
Organizamos com
outras organizações todos os ENUNEs – encontro de estudantes negros e
negras da UNE, participamos do conselho nacional de promoção da
igualdade racial, estivemos no ENJUNE e montamos uma agenda de
auto-organização.
A X conferência
nacional da democracia socialista e a redefinição da centralidade da
revolução democrática: a conferência negra da ds e o ativo nacional de
negras e negros da democracia socialista.
Nos marcos do início
de mais um governo do PT, a democracia socialista fez uma conferência
onde muitos avanços foram identificados. Avançamos para ampla
participação de negras e negros na corrente, montamos uma direção
paritária, reafirmamos a necessidade da auto-organização de negras,
mulheres, lgbtt e jovens. Além disso, solidificamos a opinião de que a
centralidade da revolução democrática deve ser o combate ao racismo.
Nesta conferência, reconhecidamente a maior conferência negra da
corrente, organizou-se uma agenda nacional e foi convocado o ativo
nacional de negras e negros da democracia socialista.
Em março de 2012,
aconteceu em Salvador o ativo nacional de negras e negros da democracia
socialista. Durante todo este espaço, debateu-se temas relevantes à
reorganização da unidade nacional do debate de negras e negros do PT.
Necessidade de apresentar uma alternativa de funcionamento, método e
direção política para a Secretaria. Ao mesmo tempo, montou-se uma agenda
nacional de diálogos com setores da CNB, Mensagem ao Partido e diversos
segmentos internos do PT. Esse movimento nos permitiu montar uma tese
atual, crítica e coletiva.
A disputa da Secretaria, percalços, acusações e a reeleição de Cida Abreu
A disputa recente
para a Secretaria foi muito acidentada. As candidaturas de oposição não
tiveram acesso às informações ou estrutura para fazer campanha. Todos os
delegados de São Paulo foram excluídos da etapa nacional, delegação a
qual a Candidatura da Matilde Ribeiro era hegemônica.
Existiam três chapas
maiores. Uma conduzida por Cida Abreu, outra por Matilde Ribeiro, ambas
militantes da mesma corrente interna do PT, e uma terceira organizada em
torno de Nei Pires. Essa chapa era notadamente de oposição. Durante o
encontro, o jogo foi o mesmo da campanha. Reforço aqui minha
solidariedade à candidata Matilde Ribeiro, mulher que foi ultrajada e
sofreu penalidades enquanto ministra, por defender e acreditar em um
projeto político. De lá para cá, avalio ter sido a melhor dirigente que
esteve à frente da SEPPIR. Seu trabalho tem reflexos positivos até
hoje, em dias de inércia dos novos dirigentes. O encontro nacional
deu-se com pouco debate político e com pouquíssima participação dos
delegados. Ao menos, dos que não eram dirigentes ligados ao processo.
Alguns saíram do Encontro sem saber a opinião da atual secretária sobre a
participação da SEPPIR no governo, a diminuição da presença dos negros e
negras no primeiro escalão, a relação da Secretaria com os movimentos
socais e sobre uma agenda para eleger ou ajudar na formação de uma chapa
mais negra em 2012 . Nenhuma mesa foi paritária, destaco. Em nenhum momento a chapa de Cida Abreu fez algum esforço para ampliar o diálogo.
A chapa se organizou para tentar imprimir uma derrota pela quantidade
de delegados, não se esforçando para construção de mediações ou
consensos. Com tudo isso, Cida Abreu foi reeleita.
Os revolucionários deixam uma mensagem ao partido
O Novo Brasil não
será construído com técnicas arcaicas. A candidatura da chapa "Combate
ao Racismo no Centro da Revolução Democrática" deixou algumas mensagens.
A primeira mensagem é sobre uma nova cultura política.
Os setoriais estaduais são desvalorizados. Muitos setoriais não possuem
uma sala ou telefone. No Brasil, com essa população negra enorme, as
Secretarias de Combate ao Racismo não possuem direito a voto. Mais
ainda, nem a condução, nem a política e nem as direções tem ampla
participação negra. Estamos disputando o quê? Vale mesmo disputar de
qualquer forma contra nós mesmos? Fizemos debate limpo, franco e com
poucos recursos. Tentamos construir unidades e uma pauta política
consensual para defendermos todos juntos. Essa seria a maior vitória
deste encontro. Não foi dessa vez.
Mesmo assim, a
candidatura de nossa chapa nos instituiu atributos em várias
perspectivas. Centralizou um debate nacional entre vários coletivos
secundarizados no PT sobre o setorial, sobre suas contribuições, debateu
o aperfeiçoamento das estruturas das secretarias estaduais de combate
ao racismo, apresentou uma alternativa de método e de prática política
para a condução nacional do Coletivo. Enfim, organizou uma qualificada oposição reafirmando um PT socialista, anti-racista, anti-homofóbico e feminista.
A candidatura de
Ivonei Pires nos deixou uma agenda nacional de organização. Serviu
também para reorganizar a correlação de forças interna da militância
negra do PT. Além disso, esse campo se estabelece como segundo maior
campo nacional. Aproveito também, para parabenizar o companheiro Nei
Pires pela segurança, temperamento, capacidade de articulação e método
na condução. Sua trajetória ganhou mais alguns elementos positivos.
Tivemos muitas
vitórias e devemos comemorar. A nossa chapa foi composta por várias
organizações e terá dois representantes na próxima gestão. Para estes
novos coletivos, desprendemos o anseio em expandir nosso respeito,
parceria e compromisso de fazer gestão e política coletivamente.
É fundamental também
falar de nossas vitórias por todo o Brasil. Agora, nosso campo participa
de diversas secretarias estaduais reais. Tivemos delegação em vários
estados importantes do país. Aqui, quero refletir a importância da
participação de nossa militância do Rio Grande do Sul e da eleição do
companheiro Marcio. Respeito e admiração também para o nosso coletivo de
Pernambuco, cidade sede e militância aguerrida que tanto nos ajudou.
Agradecimentos também, aos companheiros do querido Tocantins, que por
motivos de não utilizarem da política antiquada, não participaram do
Encontro, onde possuímos muito potencial e militância negra organizada.
Vida longa ao PT. Boa
sorte Ivonei Pires! Para nós, muita luta para alcançarmos as próximas
vitórias. Avante PT e para construir uma verdadeira revolução
democrática, marchemos.
*Herlom Miguel é membro da Coordenação
Nacional de Negras e Negros da Democracia Socialista e militante do
Coletivo Nacional Enegrecer.
sexta-feira, 1 de junho de 2012
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