Ao mesmo tempo, esse processo coincidiu com a reconstrução da União Nacional dos Estudantes, através da sua atuação decisiva nas grandes lutas em que a juventude e a sociedade brasileira se envolveram, como por exemplo o processo de Impeachment do presidente Collor, a resistência ao projeto neoliberal e, posteriormente, ajudando a eleger e reeleger os governos democráticos e populares no Brasil.
Como consequência, interrompemos o avanço do neoliberalismo em nosso continente e iniciamos a construção de uma nova hegemonia democrática e popular, através de um programa de Revolução Democrática, que tem transformado a consciência do povo brasileiro, iniciado uma mudança na natureza do Estado brasileiro e alterado a correlação de forças no país. A terceira vitória consecutiva sobre as forças neoliberais expressam a força da atual consciência anti-liberal do povo brasileiro. Essa consciência é hoje mais nacional, popular, democrática, confiante e esperançosa no futuro.
Ao mesmo tempo, o Estado brasileiro começou a ser republicanizado, isto é, iniciou-se a redução da privatização e mercantilização das funções do Estado e passou-se a ampliar a esfera pública. O governo Lula foi de disputa e com enormes contradições, mas marcado por um profundo combate às desigualdades sociais e pelo esforço sistêmico de tornar a nossa sociedade mais justa e solidária, com a ampliação das políticas sociais e com o avanço, ainda que tímido, da democracia participativa.O avanço dos direitos do trabalho, da cidadania e o ambiente democrático de relação com os movimentos sociais formam também uma nova correlação de forças mais favorável ao campo progressista.
A UNE em conjunto com as demais entidades do movimento social foram fortalecidas e ampliaram a sua ação na proposição e construção das políticas. Esse processo reforçou o peso, o papel e a legitimidade histórica da UNE como a principal entidade do movimento juvenil brasileiro.Com isso, cresceu também o desafio de atualizar a sua plataforma política para a educação e para o país em geral e a sua forma de organização. A legitimação na sua base social fortalecerá a capacidade da UNE para mobilizar, enfrentar e construir alternativas nessa conjuntura plena de perspectivas para o socialismo democrático.
Construindo uma Nova Cultura Política
Como a maior parte dos movimentos sociais e do campo da esquerda, a UNE tem vivido as contradições de assumir a construção de uma nova hegemonia no país. Tendo estado grande parte da sua história numa posição de enfrentamento e oposição aos governos e à hegemonia dominante no país, estamos construindo uma nova identidade programática que ainda carece de maior legitimidade com o conjuntos dos/as estudantes.
O sentimento generalizado de que o movimento estudantil articula suas pautas a partir de interesses não reconhecidos pelos/as estudantes, organizando as disputas e o controle das entidades estudantis em função dos interesses partidários, tem relação com a cultura política neoliberal que estamos enfrentando e pretendemos superar. De fato, o movimento estudantil possui a característica, ausente na maior parte dos movimentos sociais, de vincular as suas lutas imediatas ao tempo histórico e à luta política realmente existente no país. Mas isso é uma virtude e não um desvio aparelhista.As dificuldades de maior aproximação com a realidade da base tem a ver com a necessidade de democratização da UNE. A atuação da Kizomba no movimento estudantil tem sido decisiva no último período, no qual esse desafio começou a ser encarado mais firmemente pela entidade. Uma demonstração disso foi a aprovação dos Conselhos Fiscais e Editoriais, ainda em implementação. Além disso, a Kizomba vem defendendo e acreditamos que seja o momento decisivo da entidade assumir uma política de cotas que garanta a participação paritária de mulheres e homens na sua direção (pleno e executiva).
A tarefa de democratizar a UNE tem a ver com a perspectiva de socialização, vinculando a democratização da entidade ao objetivo estratégico de ampliar a sua legitimidade política perante o conjunto de estudantes e sua capacidade de intervir na atual conjuntura brasileira.Nesse sentido, a organização dos Encontros de Mulheres Estudantes (EMEs) e dos Encontros de Negros, Negras e Cotistas da UNE (ENUNE) têm sido fundamental para que a entidade incorpore as novas agendas e se aproxime desses novos sujeitos políticos que têm se inserido na universidade com a democratização do ensino superior. Esses espaços devem ser fortalecidos e aprimorados como fórum próprio de debates, formação e auto-organização dos e das estudantes. A UNE também deve incentivar o surgimento de organização em outros temas, como do combate à homofobia, do meio ambiente.
Um outro espaço retomado a partir da força de pressão da Kizomba foram os Conselhos Nacionais de Entidades de Base. Os CONEB`s são fundamentais na ampliação da legitimidade da UNE, na perspectiva em que podem servir para que as pautas gerais apresentadas pela entidade estejam vinculadas com as demandas cotidianas e concretas dos e das estudantes. Além disso, têm sido o espaço prioritário para a elaboração recente da UNE no campo das políticas educacionais, como no caso do Projeto de Reforma Universitária e na recente discussão sobre o Plano Nacional de Educação.A dinâmica dos fóruns da UNE, porém, têm demonstrado limitações por não conseguirem envolver e proporcionar a participação plena dos e das estudantes. Com isso, a formulação e construção dos espaços têm ficado excessivamente por conta das forças políticas. Por isso, é necessário um novo formato para os fóruns da UNE, tornando-os mais dinâmicos e participativos.
A apresentação de textos-bases pela direção da UNE, orientando o debate preparatório para os encontros, e o funcionamento efetivo dos Grupos de Discussão são apontadas por nós como soluções para essa renovação dos encontros e congressos da UNE.É importante também reforçarmos o papel das campanhas e jornadas de luta para a construção de uma UNE militante e de massas. É através destes momentos que a entidade consegue expressar nas ruas as bandeiras construídas coletiva e democraticamente em seus fóruns.
Esses seriam passos fundamentais para que a UNE se fortaleça na base estudantil, construindo uma identidade militante e ganhando o conjunto de estudantes para os desafios da luta política. Fortalecida e legitimada pelos estudantes a UNE terá, consequentemente, mais força e capacidade de apresentar a sua plataforma política e educacional para interferir nos rumos do país.As possibilidades abertas pela nova conjuntura
A democratização da estruturas e aproximação da UNE com o conjunto dos estudantes tem mais sentido quando reforçamos a concepção de que a nossa atuação no movimento estudantil deve estar concatenada com os desafios abertos pela conjuntura. Essa compreensão é que têm permitido à UNE apresentar uma intervenção qualificada nos temas da juventude e da sociedade.
A partir deste horizonte estratégico, e com base na maturidade e acúmulo histórico adquirido nos oito anos de Governo Lula, devemos compreender este início de governo Dilma como um momento de intensa disputa de rumos.A UNE, em conjunto com os movimentos sociais e partidos do bloco democrático-popular, deve incidir neste processo e impulsionar a construção de uma nova hegemonia. Nesse sentido, elencamos algumas prioridades para a entidade no próximo período:
1) Plano nacional de educação: A UNE deve definir como centro da pauta educacional do próximo período a disputa em torno do Plano Nacional de educação, baseada na opinião de que a luta por mudanças no PNE é fundamental para caminharmos para a democratização da educação brasileira.2) Repulicanização do Estado Brasileiro: É fundamental a mobilização do movimento estudantil para caminharmos em um processo consistente de republicanizar o estado brasileiro. Nesse caminho estão, em especial, as agendas da reforma política, do fortalecimento do SUS, da democratização dos meios de comunicação e do enfretamento ao capital financeiro.
3) 2ª Conferência Nacional de Juventude: Construir uma forte intervenção na 2ª Conferência Nacional de Juventude é um instrumento fundamental de aumento do protagonismo da entidade na disputa de rumos do País.4) Movimentos Sociais: A reorganização da CMS é uma condição importante para a articulação dessas agendas. A nova correlação de forças criada a partir do governo Lula ampliou a capacidade de intervenção dos movimentos sociais, mas ainda existe a necessidade de um espaço permanente de articulação das nossas lutas.
5) Mulheres: A UNE deve organizar uma campanha evidenciando as agressões a que as mulheres estão submetidas. As mortes violentas, as campanhas publicitárias, a medicalização do corpo feminino, as calouradas são parte de uma nova face do machismo que reveste a feminilidade com um viés moderno e independente, mercantilizando a vida das mulheres. A partir da articulação com outros movimentos sociais, a UNE deve protagonizar essa campanha contra a violência contra as mulheres.6) Negros e Negras: Retomada e aprofundamento da campanha pela aprovação das políticas de reserva de vagas com critério étnico-racial com vias a inclusão da população afrodescendente no ensino superior público.
7) Democratização da UNE: Fortalecer as experiências aprovadas no último Congresso da UNE de Conselho Editorial e Fiscal. No decorrer dos últimos dois anos, a entidade teve dificuldade de garantir o funcionamento destes espaços. No entanto, sua estruturação e funcionamento deve entrar como agenda importante do próximo período.A unidade do campo democrático-popular na UNE
O avanço nas agendas propostas estão intimamente ligadas com o fortalecimento da UNE. A entidade fica mais forte, amplia sua legitimidade social e aumenta sua capacidade de intervir nos rumos do país a cada vitória conquistada. A Kizomba está entre aqueles e aquelas que entende o transcrescimento das lutas da juventude brasileira e o fortalecimento da UNE como um processo vigoroso e dialético, por isso, ao mesmo tempo em que avançamos nas políticas da entidade ampliamos nossa capacidade de disputa da hegemonia no Brasil.
Estamos entre aqueles e aquelas que entendem a unidade programática em torno do avanço do programa da revolução democrática no Brasil como um instrumento marcante de uma nova cultura política no movimento estudantil. Por isso, defendemos a necessidade de fortalecermos o campo democrático e popular na UNE como a tática mais acertada diante dos desafios de democratizar a UNE e de fortalecer seu papel protagonista na disputa de rumos do país.A construção do campo democrático popular na UNE é fundamental para consolidarmos a derrota da política neoliberal no Brasil, avançar nas conquistas na área educacional e nas conquistas cidadãs e democráticas iniciadas no último período. Tal unidade também avança na ofensividade e reorganização colocada hoje aos movimentos sociais no Brasil e fortalece nossa entidade enquanto impulsionadora desse campo político e social.
A Kizomba se prõpoe a ser a cada dia mais parte deste processo de transformação. Por isso, ampliamos nos últimos anos nossa presença e nossa responsabilidade com a atuação na UNE e nas diversas entidades do movimento estudantil brasileiro. Neste sentido, construiremos de forma cotidiana as agendas propostas como desafios para a UNE no próximo período. Os desafios do movimento estudantil e da UNE são cada dia mais os desafios da Kizomba.
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