Desde sua fundação o Partido dos Trabalhadores (PT) vem se constituindo com o principal instrumento político da classe trabalhadora em nosso continente. Coerente com os anseios por transformação demandados pelas classes populares e oprimidas, o PT reivindicou para si as tradições do marxismo revolucionário como elemento estratégico no processo de emancipação da classe trabalhadora.
Clédisson Júnior *
A aposta na constituição de um bloco composto por significativas forças sociais, que historicamente vêm convergindo em suas perspectivas estratégicas, permitiu que hoje esse campo político dirigisse um processo que propõe o redimensionamento do papel do Estado, conferindo-lhe integralidade a partir da ampliação dos direitos sociais e o empoderamento de todos os brasileiros e brasileiras, assim como o fortalecimento das instituições públicas e o aprofundamento da dinâmica participativa da população nas deliberações do governo.
O processo em curso se organiza a partir de eixos estruturantes que visam à democratização da esfera pública, reestruturação e republicanização do Estado, e avanços cada vez mais substanciais na implementação de políticas sociais que atendam às demandas históricas de nosso povo, em especial, das classes menos favorecidas.
As conquistas no ultimo período nos permitiram visualizar um processo de transição do nosso modelo democrático: passamos de uma democracia constituída em preceitos liberais e representativos para um modelo com fortes elementos de democracia participativa e socialista. O envolvimento de milhões de brasileiros(as) que hoje deparam com um momento histórico e desafiador quanto ao fortalecimento da esfera pública e a reconfiguração do Estado subsidiará o transcrecimento da luta democrática e a concretização de nossa plataforma socialista.
A dimensão do antirracismo na revolução democrática
A dinâmica revolucionária que construímos e propagamos não se propõe a uma ruptura imediatista e tampouco a um processo etapista e conciliatório de classes. A revolução democrática visa a atualizar as plataformas de luta da classe trabalhadora, concatenando-as com as perspectivas emancipatórias do povo brasileiro, trazendo para o centro do programa socialista as dimensões do feminismo e do antirracismo.
Compreender a relação entre o Estado brasileiro e a população negra ao longo da história nos permitirá conceber o caráter estruturante que o racismo tem no sistema capitalista, que organiza as bases materiais e ideológicas dessa opressão. Transpor para o centro do programa socialista a dimensão do antirracismo nos apresenta a significativa tarefa de promover o maior processo de reparação social, político e material a que determinado segmento étnico já possa ter sido submetido na história da humanidade.
Esse processo reconheceria no Estado a responsabilidade pelo sequestro do povo negro no continente africano e sua utilização como mão-de-obra escrava durante mais de 350 anos, assim como sua negligência para com os negros e negras após a abolição formal da escravidão, do final do século XIX até os dias atuais.
A nossa plataforma revolucionária se referencia nas contribuições de nomes como Dandara, Zumbi dos Palmares, Luiza Mahin, José do Patrocínio, Antônio Cândido, Lélia Gonzales, Abdias do Nascimento e muitos outros lutadores e lutadoras que fizeram da luta antirracista um instrumento de denúncia e de busca pela emancipação da classe trabalhadora e do povo negro brasileiro.
Compreender a dimensão do antirracismo nos instrumentalizará para a disputa de hegemonia que tem como objetivo reconfigurar o papel do Estado a fim de que se construa um novo referencial civilizatório, que, como conseqüência, nos trará um modelo de sociedade amparado em valores como a solidariedade e o comunitarismo, elementos centrais na dinâmica de socialização dos povos africanos.
Tarefas para o próximo período
Tendo no antirracismo elemento estratégico no processo de disputa política que esse bloco histórico se propõe a dirigir, estaremos dialogando com o conjunto da classe trabalhadora, que tem nos negros e negras sua ampla maioria e que demanda protagonismo no processo de direção dos rumos da revolução brasileira. O investimento em recrutamento e formação de uma direção política, que tenha em seus quadros homens negros e mulheres negras possibilitará a construção de um vinculo orgânico com a classe trabalhadora e com o conjunto do povo brasileiro.
O Partido dos Trabalhadores (PT), no próximo período, deverá apostar na relação profícua com sua base social negra, empoderando-a e dirigindo o processos de políticas reparatórias que tanto demanda essa grande parcela de nossa população. Caberá também ao PT promover o fortalecimento de sua plataforma antirracista e o aprofundamento da sua organização interna de militantes negros e negras.
Para o sucesso da revolução brasileira, faz-se necessária a retomada da relação do partido com o movimento negro, que tanto contribui para o combate ao racismo e promoção da igualdade racial em nosso país, e se constitui em parceiro estratégico para o sucesso da revolução democrática.
*Clédisson Júnior é diretor de Combate ao Racismo da UNE, membro do Coletivo Nacional Enegrecer e do Conselheiro Nacional de Promoção da Igualdade Racial.