domingo, 26 de janeiro de 2014

O Enegrecer no Fórum Social Mundial Temático 2014



O Coletivo Nacional Enegrecer teve sua participação pautada pela questão do extermínio da juventude negra, participando de debates que trouxeram a tona como o capitalismo, o machismo e o racismo são excludentes e assassinam a juventude negra no Brasil. 
Os debates propostos pelo Enegrecer deram conta de debater a Desmilitarização da polícia. Apontou e denunciou números assustadores do extermínio da juventude negra por parte da polícia, a quem entendemos que seja o braço do Estado, logo sendo o próprio Estado. Esse é o mais nítido racismo Institucional, que mata e justifica pela idade, cor da pele e pelo território de habitação essas mortes. O Enegrecer propôs um novo modelo de Segurança pública, que só será possível dentro de uma sociedade que rompa com essa forma de organização social chamada capitalismo e se revolucione em Socialismo. 
Segurança pública dos e para os cidadãos. Pensando uma nova ótica para a polícia, mais cidadã, mais preventiva, educativa e participativa. Desmilitarizar a polícia significa um novo modo de ser Polícia.  Entendemos que territórios de paz, políticas de segurança pública só terão êxito se a população puder intervir e deliberar a polícia que queremos e para que a queremos. Uma polícia que tenha corregedorias internas, mas e fundamentalmente corregedorias externas, ouvidorias. A polícia investiga, prende e até mesmo mata com autorização da lei. Porém quem fiscaliza a polícia? Esses anseios ficaram expressos no espaço de debate. Porque temos visto a juventude negra ser brutalmente morta pelo Estado, através de seu instrumento de opressão chamado polícia, e isso ser naturalizado, banalizado e aceito como correto. Porém denunciamos que não, a Juventude quer viver. Juventude Negra Viva. O papel da polícia deve ser proteger os cidadãos. Porém quem são os cidadãos? A juventude negra, periférica também é cidadã. Queremos que a nossa cidadania seja reconhecida e respeitada. 
Ficou expressa também a responsabilização do Estado, na formação dessa polícia, reiteramos que ela é usada por ele para conter, reprimir, oprimir e por ordem. Então o nosso questionamento primeiro, não é da ação da polícia, mas do Estado que comanda essa polícia. A formação desses policiais é feita á partir da ótica capitalista, racista e machista do Estado. Logo temos a raiz do Problema, ou seja, precisamos transformar o Estado. Ele tem o dever constitucional de garantir a segurança pública a todos, segurança universal. Todavia, temos visto o Estado garantir à proteção a propriedade privada, a classe rica e excluir a população pobre, preta do guarda-chuva chamado segurança. Afinal ele enxerga a população das periferias, a população jovem, negra, pobre, como o inimigo prioritário. Estamos vivendo um processo de Higienização étnica, fundamentada num conceito de segurança racista, machista, capitalista. A negação da cidadania a juventude negra. 
Deparamo-nos com um novo movimento chamado Rolezinho, que demonstra que na visão desse Estado, que comanda essa polícia que mata a juventude negra, espaço público é para outras pessoas, que não é a juventude negra, da favela. O Enegrecer fez o debate sobre o Extermínio da juventude: da criminalização do Rolezinho à morte física. Este espaço trouxe várias denúncias, do ponto de vista da opressão territorial, cultural, econômica, étnica que a juventude negra sofre. A morte da juventude negra, não está causando efeito nenhum ao Estado burguês. Mas a sociedade está em débito com as famílias dessa juventude. Muitas vezes essas mortes são justificadas pelo tráfico de drogas, a criminalização dessa população, que nem sempre é a verdade, e mesmo se fosse não justificaria. Porém a criminalização universal da população da favela é um fato. Morar na favela é sinônimo de ser bandido. A quem ter servido esse estereótipo? Ao Estado Capitalista, Racista, Machista. 
A nossa luta é luta de Classe. Não existirá Socialismo enquanto houver racismo. A única forma de mudar essa história é denunciando, dando consciência ao povo negro e a própria sociedade, do quão violento tem sido a relação Estado X Juventude Negra. 
O Fórum proporcionou que denunciássemos e ao mesmo tempo apontássemos o caminho. O Caminho é o Socialismo. O caminho é a Revolução Democrática. Temos os fatores causais do extermínio da Juventude Negra: Capitalismo, machismo e racismo. Esses são os nossos alvos de destruição. A polícia serve ao Estado, por isso ela mata a juventude negra. Enquanto o Estado for Racista, continuaremos a ser o alvo prioritário de Extermínio da Polícia, continuaremos a ser criminalizados pela cor da nossa pele, pelo território que habitamos e pela renda que temos. Não existe Igualdade sem equidade.
Temos conseguido avançar nas políticas públicas porque esse governo tem colocado na agenda política as questões étnicas. Ao mesmo tempo em que ao temos novas políticas no âmbito racial, o reacionarismo e o preconceito racial exacerbam-se. Cotas Raciais, Demarcação de Quilombos, respeito às Religiões de Matriz Africana, tem provocado algumas mudanças importantes a vida da população negra. Porém ainda há muito em que avançar. 
Citamos o exemplo do Rolezinho. Achamos legítimo o movimento de ocupar os espaços onde até pouco tempo a juventude negra periférica fora excluída. Todavia o shopping Center é um símbolo capitalista do consumo. Queremos que a juventude tenha espaços de convivência, de cultura, de acesso às artes, que vá ao cinema, que tome o seu sorvete, mas que acima de tudo não seja vítima do Capital.
Este tem explorado e extorquido do povo brasileiro o que pode e o que não pode. Lugar da juventude negra e em todo lugar. Mas não podemos confundir que o lugar ideal seja,  por exemplo um shopping, capitalista. O pano de fundo do debate não é o espaço shopping, mas acesso a todo lazer que um ser humano merece ter. Independente da renda, da cor da pele, do local onde mora. Questionamos inclusive a função social capitalista dos shoppings centers.  Por isso reafirmamos a nossa luta é contra o capitalismo. Ele tem exterminado, excluído, oprimido a juventude negra. Isso são fatos, comprovados por dados e pesquisas. A cada quatro jovens mortos, três são negros. 
Pra mudar essa realidade, precisamos inclusão social e econômica da juventude negra, mas fundamentalmente um novo mundo possível, socialista, feminista, anti-racista. Essa mudança depende da nossa luta diária e constante contra o Capitalismo. O nosso foco era aproximar novos jovens, que se identificassem com nossas pautas e consequentemente se dispusessem a construir uma nova cultura política. Pensar uma sociedade diferente, onde a juventude negra possa viver, sonhar e ser protagonista da sua vida.  O FST 2014 nos trouxe acúmulos teóricos e de novos membros ao Enegrecer. Temos o compromisso de em 2014 organizarmos essa nova juventude que se aproximou, e dar uma formação classista, anti-racista, feminista a ela. 
Esse Fórum também teve uma característica muito importante, pois o Enegrecer fez uma parceria Estratégica de Agenda, colada a Marcha Mundial das Mulheres. Compartilhamos espaços, juventude negra e mulheres feministas. Isso proporcionou enriquecimento aos nossos debates. A MMM contou com a presença de Yildiz Termurtukana da Turquia e da Wilhelmina Trout da África do Sul. Essa ponte Enegrecer/Marcha proporcionou que debatêssemos a Crise Mundial, o Apartheid da África em comparação ao Apartheid geracional, étnico e econômico que estamos vivendo no Brasil e Reforma Política. Podemos construir o conceito de Reforma Política queremos, feminista, anti-racista. A juventude negra quer estar em todos os espaços, as mulheres também querem estar em todos os espaços e isso só será conquistado se a nossa unidade for requisito. O Fórum Social Temático proporcionou essa unidade. Entendemos que o nosso inimigo comum é o Capitalismo. Mulheres, jovens, negros e negras, unidas/os na luta contra o sistema Neo-liberal, por um outro mundo possível!




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