Por Liliane Oliveira*
No último domingo, 15 de janeiro, foram nítidas as cenas de violência sexista cometidas no programa de TV Big Brother Brasil, da Rede Globo. Pelo vídeo, transmitido ao vivo e posteriormente tirado doar, vemos um participante do reality show em ato sexual com uma participante que estava desacordada, sem que pudesse consentir com a ação. Pela legislação brasileira, não há distinção entre abuso sexual e estupro, e o que foi exibido em rede nacional foi mais um ato bárbaro de violência contra as mulheres,caracterizado como estupro.
Estupro tem a ver com poder, dominação. Reflete o papel social diferenciado atribuído às mulheres e aos homens, chamado de divisão sexual do trabalho. A naturalização desse tipo de violência faz com que a vítima do abuso seja tratada muitas vezes como cúmplice e incentivadora do ato. As situações de violência sexual são geralmente amenizadaspor argumentos relacionados ao que deveria ser o “jeito correto” das mulheres se comportarem. Argumentos, como: “Ah, ela estava bêbada, foi por isso que deixou”ou “Ela queria, senão teria impedido” ou mesmo “A roupa dela estava muito curta.”. A responsabilidade por não sofrer violência, e por evitá-la, é colocada cruelmente às mulheres, há omissão do estado, da sociedadee da emissora, no caso em questão.
Com tantas câmeras, tantos profissionais envolvidos, por que não houve nenhuma intervenção que coibisse o ato criminoso? No dia seguinte, apenas seis segundos da cena de violência foram exibidos e o apresentador exclamou: “O amor é lindo!”, como se o caso fosse só mais um envolvimento banal que acontece entre pessoas que estão confinadas.
A Rede Globo tentou desvirtuar a atenção de suas ações e só expulsou o participante após muita mobilização nas redes sociais por mulheres, movimentos sociais, pessoas indignadas e das instâncias do estado (SPM, Polícia Civil, Ministério Público).A motivação para a expulsão do participante foi tratada como quebra das regras do jogo, e não como um crime cometido em rede nacional. Um ato considerado pelo programa como “demonstração de amor” passou a ser considerado um ato errado perante as regras do jogo, porém que regras são essas? Os limites colocados pelo programa não podem ter um código próprio que fuja das leis estabelecidas de diretos das mulheres! O silêncio e as mentiras do programa agridem as mulheres, e a conivência e cinismo da emissora diante do ocorrido demonstra o quanto é necessário avançar em mecanismos de regulação da mídia.
O combate ao machismo é central na luta da UNE. Precisamos construir relações sociais livres de sexismo, racismo e homofobia. Portanto, exigimos punição e julgamento do ato criminoso praticado e repudiamos a omissão da emissora, que serviu para naturalizar mais uma vez a violência contra a mulher.
Diretoria de Mulheres da União Nacional dos Estudantes – UNE
Janeiro de 2012
*Liliane Oliveira é Diretora de Mulheres da União Nacional dos Estudantes w militante do Coletivo Nacional Enegrecer
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