quinta-feira, 3 de maio de 2012

O PT e a Secretaria Nacional de Combate ao Racismo


*Ivonei Pires

Desde que foi criada, a Secretaria Nacional de Combate ao Racismo do PT (SNCRPT) cumpre um papel decisivo de diálogo com os movimentos sociais para direcionar e influenciar na instância partidária as questões centrais sobre promoção da igualdade e combate ao racismo no País.

Ainda hoje, inegavelmente, é um tema que atinge a classe trabalhadora, como se consagrasse o encontro histórico da construção do Movimento Negro no Brasil e o nascimento do Partido dos Trabalhadores. A grande efervescência dos anos 70 descambou em marcos de luta na organização sindical, dos trabalhadores, da cidadania, da democracia e das chamadas ‘minorias’.
Enquanto iniciavam os debates sobre a fundação de um partido que tivesse ampla participação dos movimentos sociais e dos trabalhadores e trabalhadoras, os negros atiçavam na Bahia a fundação do Bloco Afro Ilê Aiyê e, no País, a criação do Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial, entre outras ações.
Desde seu surgimento, o PT tem sangue e suor da militância negra, com toda diversidade das organizações do movimento negro. Esse é um patrimônio nosso: a despeito dos debates e disputas programáticas das denominações, conseguimos incorporar ao programa do PT ações e formulações que faziam parte da luta política comum a todos do movimento.

O objetivo da nossa SNCRPT deve ser ajudar os coletivos estaduais, construindo intervenções propositivas e, com base em dados concretos, fortalecer e retomar seu protagonismo interno no PT para dar centralidade nas formulações em defesa de um Brasil onde mulheres e homens negros acessem políticas públicas, direitos, serviços e o poder.
Decerto que louvamos os avanços alcançados pelos governos do PT, sobretudo o resgate da dívida social, com divisão de renda, ascensão da classe trabalhadora, participação popular, acesso à educação e expansão da participação da população negra na universidade, além de oferta de serviços que são direitos essenciais, como a chegada de água e energia elétrica onde antes se convivia com a seca e a escuridão.

Contudo, o povo Negro continua sofrendo com a iniquidade no sistema de saúde e no mercado de trabalho; a mulher negra ainda é subjugada duplamente por uma sociedade machista e branca; a juventude negra segue exposta à cooptação pelo tráfico de drogas ou ao extermínio imposto por milícias clandestinas nos grandes centros urbanos.
O racismo está na nossa sociedade entranhado em normas, práticas e comportamentos. Aprofundar esses debates no PT é fundamental para alcançarmos mais vitórias para o povo Negro e intensificarmos a formulação das políticas afirmativas em nosso país.
O debate racial no Brasil precisa do PT. Precisamos de uma movimentação que inclua e identifique os avanços, sem negar alterações crucias pelas quais o País precisa passar. Construir um partido nos marcos do feminismo, da luta anti-homofobia e do combate ao racismo requer debate, formação e muita persistência.

*Ivonei Pires é Bacharel em Direito, Assessor da Comissão de Promoção da Igualdade Racial da Assemleia Legislativa da Bahia e ex Secretário Estadual de Combate ao Racismo do PT\BA.

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