*Por Luiz Marques
1. A mídia continua tendo uma ação protagonista no processo eleitoral. Sua intervenção inaugural na abertura do segundo turno buscou sobrevalorizar o papel da Marina no desfecho do primeiro turno, aumentando a estatura da candidata do PV para diminuir a estatura de Dilma. O intuito é claro: aprofundar na subjetividade das bases sociais e políticas da esquerda um sentimento de frustração diante das expectativas geradas ao longo da campanha e, assim, a transformar uma estupenda vitória em uma rotunda derrota. A grande mídia, com esta estratégia ladina, procura criar artificialmente a idéia de que a onda verde quebrou a onda vermelha e de que a conseqüência é a perda de fôlego político-eleitoral da Dilma, o que zeraria a disputa e alavancaria agora as possibilidades de Serra. De uma premissa falsa tira uma conclusão falsa na tentativa de confundir o povo brasileiro.
2. Não é verdade que Dilma tenha perdido o fôlego político-eleitoral. Seu desempenho nesta eleição (46,91%) é comparável ao do próprio Lula em 2002 (46%) e em 2006 (47,7%), quando se elegeu e reelegeu respectivamente. Os números demonstram que a performance da candidata do campo democrático-popular foi positiva e não negativa, como setores midiáticos do conservadorismo tentam fazer crer. Acrescente-se, ainda, que o PT em 3 de outubro aumentou sua bancada de 8 para 16 senadores, tendo também se tornado a maior bancada de deputados na Câmara com 88 deputados. Mais, a partir de 1° de janeiro terá governadores em Sergipe, Bahia, Rio Grande do Sul e Acre, além do Distrito Federal, onde tem altas possibilidades de vencer no segundo turno. Seus aliados, por sua vez, venceram no Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará, Maranhão, Piauí, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul. Não há, pois, nenhum fundamento concreto que respalde as pseudo-análises que pintam com cores sombrias o saldo eleitoral de Dilma ou do PT nas urnas, ao final do primeiro turno. Tais comentários visam tão somente embaçar o óbvio: a existência de uma onda vermelha no país, que está longe de ter se esgotado, fruto das políticas sociais desenvolvidas pelo governo Lula.
3. Marina alcançou resultado expressivo em alguns estados. No Rio de Janeiro, por exemplo, apesar de Sérgio Cabral (PMDB) ter feito 66% e a bancada federal de oposição (PSDB/DEM/PPS) a Lula/Cabral ter sido reduzida pela metade, de 10 para 5 deputados, Dilma fez 43,76% dos votos, Marina 31,52% e Serra apenas 22,53%. A surpresa do primeiro turno, no entanto, não foi Marina, de acordo com o estudo realizado pelo coordenador do Instituto Sensus, Ricardo Guedes. O efeito Marina esteve localizado no RJ, Brasília e Belo Horizonte, e não ultrapassou 2%. Aliás, considerando-se o universo do eleitorado (incluindo votos nulos/brancos e não comparecimento/sem opinião) Marina teve 17,65% dos votos, enquanto as pesquisas lhe davam 16% dos votos dos eleitores. Quer dizer, o imprevisível causado por uma mal contada "onda verde nacional" se resumiria a 1,75%, absolutamente dentro da margem de erro das pesquisas. Considerando só os votos válidos, como é sabido, Marina terminou com 19,33%, Serra com 32,61% e Dilma com 46,91%. Neste sentido, as pesquisas em geral acertaram, reitera o analista do Instituto Sensus, a quem o jornal Folha de São Paulo pretendeu desqualificar durante o processo eleitoral por apresentar a virada de Dilma em relação a Serra numa época em que o Datafolha insiste em colocar Serra como líder das pesquisas de intenção de voto.
4. A surpresa desta eleição, a rigor, esteve em outro lugar: no alto índice de abstenção somada a votos brancos e nulos no Nordeste que foi igual a 29,34%. Para se ter uma idéia, no Norte foi de 25,03%, no Sul de 21,19%, enquanto que a média brasileira foi de 25,19%. Não fosse essa discrepância, a eleição para a presidência teria acabado no primeiro turno, confirmando as projeções. Na opinião do governador reeleito do Ceará, Cid Gomes (PSB), tal ocorreu porque Lula fez pouca campanha no Nordeste, região onde o governo Lula e a candidata Dilma são muito bem avaliados. Diminuir os índices de abstenção na região é uma das tarefas para o segundo turno, assim como no Rio de Janeiro e em São Paulo.
5. Significa que a linha de campanha adotada no primeiro turno esteve correta, bem como o desempenho da candidata nos comícios, nos debates televisivos, etc, foi amplamente satisfatório. Aprofundar o cotejo de projetos políticos e o contraste entre o governo neoliberal e o governo Lula/Dilma, explorar mais as imagens de Dilma mais junto ao povo e sua condição de "mulher chegando lá ao poder" não deve conduzir-nos a uma autoflagelação, como se tivéssemos errado na linha ou como se a candidata tivesse cometido falhas.
6. Com os recursos materiais e militantes de que dispomos, em cada estado da federação, é possível potencializar a vitória do campo democrático-popular no segundo turno. Nunca tivemos tantos motivos para o otimismo da paixão e da razão. À vitória!
*Luiz Marques é Professor Ciência Política da UFRGS, Membro da Coordenação Estadual da Democracia Socialista e Secretário Estadual da Cultura no Governo Olívio/Rossetto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário