Clédisson Júnior*
Liliane Oliveira**
Entre os dias 13 a 17 de julho de 2011, na cidade de Goiânia – GO, a União Nacional dos Estudantes (UNE) promoverá seu 52 º Congresso, que para além de eleger sua nova direção, também atualizará sua plataforma de ação para o biênio 2011-2013.
Para o 52 º CONUNE são esperados um número superior a dez mil jovens estudantes de todo o Brasil, o que já o torna o maior congresso já construído pela nossa entidade.
Fruto de um momento histórico na vida de brasileiras e brasileiros, o ensino superior em nosso país vive um novo e desafiador paradigma, nunca tantos jovens negros e negras estiveram presentes nos bancos universitários, presença esta que tem a importante atribuição de reconfigurar o papel que a universidade brasileira vem cumprindo no últimos séculos, sendo ela instrumento de formação de uma classe dirigente pertencente a uma elite que nunca dialogou com a realidade do povo brasileiro e sua necessaria emancipação.
Instrumentos como o programa “Universidade para Todos” (Prouni), as recentes vitorias conquistadas junto a mais de 80 instituições de ensino superior publico em diversos estados, que hoje adotam políticas de ações afirmativas para acesso da população negra assim como a conquista do Novo Enem, estão cumprindo a importante tarefa de levar ao conjunto de nossa sociedade, a discussão sobre existência do racismo em nosso país e a necessidade de desenvolvermos uma profunda dinâmica de reparação, visando igualar em níveis socioeconômicos e políticos a grande parcela negra da nossa população.
No último período a UNE pautada pela coerência, de forma acertada optou por estreitar suas relações com as organizações que constroem o movimento negro brasileiro, a fim de apreender com as experiências deste segmento que ao longo de nossa história, se tornou o principal porta voz das necessidades do povo negro em nosso país. Este processo nos permitiu acumular perspectivas acerca das lutas anti-discriminatórias e o desenvolvimento de uma plataforma de combate ao racismo que dialogasse com a realidade vivida pelo grande contingente de jovens negros e negras que hoje compõe o corpo discente nas universidades em todo o Brasil.
De forma a potencializarmos nossa atuação, seja ela na formulação sobre as políticas educacionais, seja em nossa incidência quanto ao combate às práticas racistas vivenciadas pelos estudantes negros e negras, assim como a defesa das políticas de ações afirmativas com centralidade nas cotas raciais, construímos uma inédita aliança com as principais organizações nacionais e coletivos regionais do movimento negro brasileiro.
Esta aliança nos permitiu desenvolver um novo olhar para a dura realidade enfrentada pela juventude negra em nosso país, realidade essa que vem cerceando nossa juventude do seu direito maiselementar, o direito a vida.
Deparamo-nos com o aterrorizante quadro de extermínio sistêmico da nossa juventude negra, quadro esse que em sua maioria dos casos são implementados pelo aparelho de segurança do Estado, o mesmo Estado que deveria garantir direitos promovendo a igualdade de oportunidades e a conquista da cidadania.
A defesa das políticas de ações afirmativas para acesso da população negra no ensino superior pouco surtirá efeito se os jovens negros continuarem sendo mortos nas periferias de nossas cidades e nos campos.
Para o próximo período a UNE estará entre as organizações que busca evidenciar a existência e a denuncia do genocídio dos jovens negros em nosso país, colocando a disposição desta luta seu maior patrimônio, o nosso grande potencial de mobilização.
Este processo perpassa por apresentarmos que o machismo, a homofobia e o racismo dialogam de modo a perpetuar e potencializar a exploração e opressão vivenciada pelas jovens negras e negros cotidianamente. A consolidação de uma plataforma de ações e políticas globais de enfrentamento às opressões, com atenção especial às jovens negras, é tarefa que o conjunto do movimento estudantil deve se debruçar e construir em cada canto do Brasil.
O extermínio da juventude negra se dá de diversas formas, atingindo de modo cruel e excludente as mulheres negras. Para combatê-lo faz-se necessário a luta contra a mercantilização do corpo e da vida das mulheres, a defesa da autonomia sobre seus corpos e sua sexualidade, além da defesa intransigente da descriminalização e legalização do aborto, sendo estes, elementos centrais para avançarmos na garantia de direitos às mulheres tendo muita centralidade as ações direcionadas às jovens mulheres negras, elemento constitutivo de nossa ampla estratégia para o próximo período
O aprofundamento democrático se constitui como sendo um dos nossos principais nortes estratégicos, nos posicionando entre as organizações do movimento social brasileiro que compreende a importância das discussões sobre a reforma política em nosso país. Não acreditamos em meia democracia ou uma democracia para poucos, o processo sobre a reforma política somente atenderá seu propósito, reparando a divida histórica que o Estado brasileiro tem com sua população negra, no que diz respeito aos seus direitos políticos, que foram deliberadamente negligenciados ao longo de nossa historia e que ainda hoje enfrentamos suas conseqüências.
Para que a universidade brasileira cumpra sua missão de ser o centro de excelência na produção do conhecimento emancipador e na formação de quadros dirigentes comprometidos com o desenvolvimento de nossa sociedade aceitamos o desafio de promovermos uma profunda campanha visando a descolonização do conhecimento e o combate ao epstemicídio, que sistematicamente nega a contribuição dos povos africanos e seus descendentes na produção do saber e na construção de nosso identidade.
Uma universidade comprometida com o desenvolvimento de nosso povo traz para seu interior a realidade deste povo assim como ele próprio.
Nossa plataforma vem sendo construída coletivamente e se encontra em pleno desenvolvimento, a UNE chama para si a co-responsabilidade de construí-la junto aos estudantes de todo o Brasil, negros e não negros.
Convidamos todos e todas para o nosso 52 º congresso, certos de que faremos deste espaço um grande encontro da juventude negra, certos que faremos deste congresso uma verdadeira Kizomba.
*Clédisson Júnior é diretor de Combate ao Racismo da UNE
**Liliane Oliveira é secretaria geral da União dos Estudantes da Bahia – UEB
Liliane Oliveira**
Entre os dias 13 a 17 de julho de 2011, na cidade de Goiânia – GO, a União Nacional dos Estudantes (UNE) promoverá seu 52 º Congresso, que para além de eleger sua nova direção, também atualizará sua plataforma de ação para o biênio 2011-2013.
Para o 52 º CONUNE são esperados um número superior a dez mil jovens estudantes de todo o Brasil, o que já o torna o maior congresso já construído pela nossa entidade.
Fruto de um momento histórico na vida de brasileiras e brasileiros, o ensino superior em nosso país vive um novo e desafiador paradigma, nunca tantos jovens negros e negras estiveram presentes nos bancos universitários, presença esta que tem a importante atribuição de reconfigurar o papel que a universidade brasileira vem cumprindo no últimos séculos, sendo ela instrumento de formação de uma classe dirigente pertencente a uma elite que nunca dialogou com a realidade do povo brasileiro e sua necessaria emancipação.
Instrumentos como o programa “Universidade para Todos” (Prouni), as recentes vitorias conquistadas junto a mais de 80 instituições de ensino superior publico em diversos estados, que hoje adotam políticas de ações afirmativas para acesso da população negra assim como a conquista do Novo Enem, estão cumprindo a importante tarefa de levar ao conjunto de nossa sociedade, a discussão sobre existência do racismo em nosso país e a necessidade de desenvolvermos uma profunda dinâmica de reparação, visando igualar em níveis socioeconômicos e políticos a grande parcela negra da nossa população.
No último período a UNE pautada pela coerência, de forma acertada optou por estreitar suas relações com as organizações que constroem o movimento negro brasileiro, a fim de apreender com as experiências deste segmento que ao longo de nossa história, se tornou o principal porta voz das necessidades do povo negro em nosso país. Este processo nos permitiu acumular perspectivas acerca das lutas anti-discriminatórias e o desenvolvimento de uma plataforma de combate ao racismo que dialogasse com a realidade vivida pelo grande contingente de jovens negros e negras que hoje compõe o corpo discente nas universidades em todo o Brasil.
De forma a potencializarmos nossa atuação, seja ela na formulação sobre as políticas educacionais, seja em nossa incidência quanto ao combate às práticas racistas vivenciadas pelos estudantes negros e negras, assim como a defesa das políticas de ações afirmativas com centralidade nas cotas raciais, construímos uma inédita aliança com as principais organizações nacionais e coletivos regionais do movimento negro brasileiro.
Esta aliança nos permitiu desenvolver um novo olhar para a dura realidade enfrentada pela juventude negra em nosso país, realidade essa que vem cerceando nossa juventude do seu direito maiselementar, o direito a vida.
Deparamo-nos com o aterrorizante quadro de extermínio sistêmico da nossa juventude negra, quadro esse que em sua maioria dos casos são implementados pelo aparelho de segurança do Estado, o mesmo Estado que deveria garantir direitos promovendo a igualdade de oportunidades e a conquista da cidadania.
A defesa das políticas de ações afirmativas para acesso da população negra no ensino superior pouco surtirá efeito se os jovens negros continuarem sendo mortos nas periferias de nossas cidades e nos campos.
Para o próximo período a UNE estará entre as organizações que busca evidenciar a existência e a denuncia do genocídio dos jovens negros em nosso país, colocando a disposição desta luta seu maior patrimônio, o nosso grande potencial de mobilização.
Este processo perpassa por apresentarmos que o machismo, a homofobia e o racismo dialogam de modo a perpetuar e potencializar a exploração e opressão vivenciada pelas jovens negras e negros cotidianamente. A consolidação de uma plataforma de ações e políticas globais de enfrentamento às opressões, com atenção especial às jovens negras, é tarefa que o conjunto do movimento estudantil deve se debruçar e construir em cada canto do Brasil.
O extermínio da juventude negra se dá de diversas formas, atingindo de modo cruel e excludente as mulheres negras. Para combatê-lo faz-se necessário a luta contra a mercantilização do corpo e da vida das mulheres, a defesa da autonomia sobre seus corpos e sua sexualidade, além da defesa intransigente da descriminalização e legalização do aborto, sendo estes, elementos centrais para avançarmos na garantia de direitos às mulheres tendo muita centralidade as ações direcionadas às jovens mulheres negras, elemento constitutivo de nossa ampla estratégia para o próximo período
O aprofundamento democrático se constitui como sendo um dos nossos principais nortes estratégicos, nos posicionando entre as organizações do movimento social brasileiro que compreende a importância das discussões sobre a reforma política em nosso país. Não acreditamos em meia democracia ou uma democracia para poucos, o processo sobre a reforma política somente atenderá seu propósito, reparando a divida histórica que o Estado brasileiro tem com sua população negra, no que diz respeito aos seus direitos políticos, que foram deliberadamente negligenciados ao longo de nossa historia e que ainda hoje enfrentamos suas conseqüências.
Para que a universidade brasileira cumpra sua missão de ser o centro de excelência na produção do conhecimento emancipador e na formação de quadros dirigentes comprometidos com o desenvolvimento de nossa sociedade aceitamos o desafio de promovermos uma profunda campanha visando a descolonização do conhecimento e o combate ao epstemicídio, que sistematicamente nega a contribuição dos povos africanos e seus descendentes na produção do saber e na construção de nosso identidade.
Uma universidade comprometida com o desenvolvimento de nosso povo traz para seu interior a realidade deste povo assim como ele próprio.
Nossa plataforma vem sendo construída coletivamente e se encontra em pleno desenvolvimento, a UNE chama para si a co-responsabilidade de construí-la junto aos estudantes de todo o Brasil, negros e não negros.
Convidamos todos e todas para o nosso 52 º congresso, certos de que faremos deste espaço um grande encontro da juventude negra, certos que faremos deste congresso uma verdadeira Kizomba.
*Clédisson Júnior é diretor de Combate ao Racismo da UNE
**Liliane Oliveira é secretaria geral da União dos Estudantes da Bahia – UEB
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