quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Caminhando firme e avante!


*Cristian T. Ribas



Temos um inicio de semestre consagrado pelo maior Congresso Nacional da UNE - a maior mobilização estudantil, num processo de tiragem de delegados e principalmente maior número de estudantes advindos das classes trabalhadoras, estudantes pobres, de escolas públicas que hoje tornam a universidade cada dia menos burguesa e mais negra. Conquistas diárias avançam na construção de uma Universidade Democrática e Popular, que repare as diferenças sociais, que exponha os estudantes a importância do combate o racismo e promova pela educação uma democracia racial, que combata a homofobia, o machismo e toda e qualquer forma de preconceito.

O semestre iniciou também com a deflagração da greve dos servidores técnicos administrativos e professores. Já são mais de 48 IFES onde as categorias estão mobilizadas contra o congelamento dos salários, em defesa da valorização profissional, plano de carreiras, melhores condições de trabalho, fim das terceirizações e o investimento de 10% do PIB na Educação. Reivindicações legítimas de categorias que prestam um papel central no processo de melhoria da educação pública de qualidade, que por mais transtornos que acarretem a greve, é essa historicamente a ferramenta mais eficiente de reivindicação da classe trabalhadora. A configuração de um cenário oportuno para avaliação das vitórias e dos desafios que aos movimentos de educação apresentam.

Há 74 anos, a UNE vem atuando na luta pelos direitos políticos e sociais do povo brasileiro. Junto a esse processo de construção de uma sociedade democrática, justa e igualitária, o Movimento Negro tem registrado seu importante papel no processo de eliminação das desigualdades sociais, historicamente originarias das desigualdades raciais.

A Kizomba tem travado e avançado progressivamente na luta contra uma ordem opressora enraizada no processo histórico do nosso país. Compreendemos que a construção do Socialismo Democrático está ligada a efetivação de direitos e oportunidades e ao combate a todas as formas de exploração, exclusão e discriminação. Não se constrói uma sociedade justa sem combater o racismo, a homofobia, o machismo e a exploração da classe trabalhadora.

O Coletivo Enegrecer, marco da auto-organização da militância de jovens negros e negras da Kizomba pela promoção de igualdade racial e combate ao racismo, vem intervindo intensamente no Movimento Estudantil e ampliando conquistas. Nossas duas gestões consecutivas na condução da Diretoria de Combate ao Racismo da UNE consolidaram o debate das ações afirmativas com
critério étnico-racial junto ao centro do projeto político de disputa de uma Universidade Democrática e Popular.

Atitudes que consideram certos grupos raciais inferiores afim de justificarem a dominação e a satisfação de interesses individuais ou de um grupo, configuram a construção histórica do Estado brasileiro. A ideologia racista, inicialmente institucionalizada por um regime econômico baseado na exploração da mão-de-obra escrava negra, que após a abolição da escravidão incentivou a vinda de imigrantes europeus num ideal racista de branqueamento, afastou o negro do mercado de trabalho e o excluiu do projeto nacional. A própria formação do proletariado brasileiro e as matrizes de desenvolvimento se construíram de forma desigual baseada em critérios de
origem étnico-raciais dos indivíduos.

Por muitos anos acreditou-se que políticas de universalização do atendimento das políticas sociais seriam suficientes para resolver os problemas de desigualdades raciais e que o Brasil, por ser um país de origem multi-étnica, não precisaria de políticas de combate ao racismo pela grande número de negros/as na composição da população brasileira, e em função disso tínhamos democracia racial. No entanto, a ampliação do acesso às políticas sociais tais como educação, saúde e moradia, se mostraram insuficientes para a redução das diferenças entre negros e brancos. A população negra ainda apresenta um número maior em analfabetismo e freqüência proporcional no Ensino Médio. A idéia de inferioridade do negro, herdada da escravidão negra, ainda está impregna na sociedade, nas praticas racistas institucionalizadas pelos aparelhos de segurança do estado, pela mídia, por manifestações de agressão física, verbal ou social, explicitas ou não.

Apenas a composição e a presença da população negra na sociedade, não garante uma democracia racial se a mesma não tiver uma participação equânime nas atividades sociais como um todo. No que tange acesso ao ensino superior, algumas universidade, como a Universidade Federal do Tocantins, se colocam como racialmente democráticas por terem 70% dos seus estudantes que se declaram negros, mas quando analisamos a composição étnica nos cursos de maior concorrência como Medicina, Direito e Engenharias, a presença de estudantes negros/as é inferior a 10%.

Debater e lutar pela necessidade da sociedade e da universidade serem compostas e dirigidas de forma equivalente por todos os seguimentos sociais e raciais é desenvolver no/pelo segmento social e educacional a igualdade racial.

*Cristian T. Ribas é Diretor de Combate ao Racismo da UNE e militante do Coletivo Nacional Enegrecer

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